Fortune Gems

365 dias, 247 pregões e 10 dias que marcaram a bolsa em 2010, por bem ou por mal

Veja as maiores quedas e altas do Ibovespa em um ano em que o índice chegou perto da máxima, mas sentiu a volatilidade

Por  Julia Ramos M. Leite

SÃO PAULO – Se 2009 foi classificado como um ano espetacular para a bolsa brasileira, 2010 levará ao seu lado uma palavra menos agradável: volatilidade. Entre muitas altas e baixas, o Ibovespa fechou 2010 com uma variação de 1,04%, bem mais minguada do que os 83% vistos um ano antes.

Da mínima à máxima do ano, o principal benchmark da bolsa paulista oscilou quase 15 mil pontos. Clique nos itens abaixo e relembre alguns dos melhores – e piores – dias do índice, além daqueles que contaram com notícias que trouxeram pesadas variações a alguns papéis.

– Mar de más notícias traz a maior queda 

Más notícias não estavam em falta no dia 4 de fevereiro. A Europa foi a primeira a emitir sinais preocupantes no dia, com os anúncios de que as dívidas públicas de Portugal, Grécia e Espanha representariam 91%, 135% e 74% de seus respectivos PIBs (Produto Interno Bruto) em 2011.

No front corporativo, os resultados trimestrais foram mistos, não trazendo alívio aos mercados. O mesmo aconteceu com a agenda. Nos EUA, o Initial Claims ofuscou o desempenho positivo da produtividade no mercado de trabalho e do Factory Orders. Por aqui, a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) revelou preocupações sobre as pressões inflacionárias.

Com isso, entre os principais índices norte-americanos e europeus, a menor baixa foi a do FTSE 100 da bolsa de Londres, que recuou 2,17%. Em meio a esse mar de referências negativas, o Ibovespa atingiu o menor patamar em três meses. As cinco maiores quedas do índice registraram perdas de mais de 7,5% no dia, e nenhum dos papéis da carteira teórica encerrou no azul. Com isso, o Ibovespa recuou 4,73%, sua pior baixa em 2010.

– A quinta-feira negra 

No dia 6 de maio, os principais índices de Wall Street abriram com leves quedas – pouco após o início dos negócios, o Dow Jones caía 0,17%, o S&P 500 recuava 0,33% e o Nasdaq operava em baixa de 0,20%. Por volta das 15h, as quedas já eram mais profundas, oscilando em torno de 1,2% e 1,9%.

Pouco tempo depois, o Dow Jones despencava quase 10%, ou 1.000 pontos – sua maior baixa desde 1987. Cerca de US$ 700 bilhões em valor de mercado foram perdidos em 20 minutos. Os demais índices norte-americanos seguiram a mesma trajetória, puxando consigo o Ibovespa, que chegou a recuar 6,38% no intraday – no final do dia, as quedas já eram mais amenas, mas ainda assim o principal índice da bolsa brasileira caiu 2,31%, variação um pouco mais amena do que a vista em Wall Street.

O pânico durou poucos minutos, mas fez com que as mais diversas explicações surgissem: erros de ordem, high frequency trading e o contágio na Europa foram as principais delas. A fuga de liquidez momentânea, o efeito manada e o mecanismo de negociação da Nyse também surgiram como possíveis justificativas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Oflash crash ou quinta-feira negra, alguns apelidos para o dia, também fez com que os mercados repensassem seus modos de operação. No mesmo dia, a SEC (Securities and Exchange Commission) já procurava a origem do problema e, pouco depois, a implementação de um circuit breaker para as bolsas norte-americanas começou a ser discutida e entrou em fase de testes.

– A disparada com o resgate à Grécia 

Nos cinco primeiros pregões de maio, o Ibovespa acumulou quedas de 6,9%, sentindo o mau humor externo causado pelos problemas na Grécia. No final de semana, contudo, as coisas mudaram.

Os ministros de finanças dos 16 países pertencentes à Zona do Euro se reuniram com o BCE (Banco Central Europeu) e o FMI (Fundo Monetário Internacional) e firmaram a estratégia de socorro aos países do velho continente com problemas fiscais, acordando em um pacote de ajuda no valor de € 750 bilhões (US$ 1 trilhão).

Na segunda-feira seguinte, 10 de maio, a notícia animou os mercados. Nos EUA, a menor alta entre os principais índices foi a do Dow Jones: 3,90%. Na Europa, foco dos problemas, o movimento foi ainda mais acentuado: o índice CAC 40 da bolsa de Paris, disparou 9,66%. Por aqui, o dólarcaiu 4%, e o Ibovespa avançou 4,11% – sua maior alta do ano.

– Com menos 6 mil pontos em 6 pregões, a mínima do ano 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O alívio trazido pelo resgate à Grécia durou pouco. Em uma semana repleta de referências econômicas e corporativas no cenário local – que incluíram diversos resultados trimestrais, como os números da Petrobras (PETR3PETR4), notícias sobre a capitalização da estatal, além de novidades sobre o mercado imobiliário e de cartões – o foco ficou mesmo com o plano externo, que não foi dos mais animadores.
Data Variação Ibovespa Pontuação
Fechamento
13/05-0,66%64.690
14/05-2,13%63.412
17/05-0,86%62.866
18/05-3,22%60.841
19/05-1,89%59.6389
20/05 -2,51%58.192 

Uma semana após a “quinta-feira negra”, a regulação dos mercados financeiros seguia em pauta, com rumores de fraudes em grandes bancos. Ao mesmo tempo, a China também atraiu atenções, com declarações do governo de que as bases da recuperação global ainda não eram sólidas e que o país faria o necessário para conter o aumento de preços de imóveis por lá, indicando um aperto monetário.

Enquanto isso, a Europa continuava a ocupar as manchetes: reunião dos ministros de Finanças, cortes de gastos em Portugal e na Itália, supostas ameaças francesas de deixar a Zona do Euro, rolagem da dívida espanhola e leilão do BCE atribularam a semana. Entretanto, a maior referência viria na quarta-feira, dia 19, com a proibição alemã ao naked short selling,práticana qual os investidores dão ordem de venda de um ativo, mas não o possuem efetivamente para concretizar a operação.

Com perdas de2,51%, o dia 20 de maio marcou o sexto dia seguido de queda do Ibovespa. Nessa sequência de quedas, o índice perdeu nada menos do que 6 mil pontos e atingiu a mínima do ano, em 58.192 pontos.

– A fusão que surpreendeu o mercado 

O dia 13 de agosto – uma sexta-feira – foi um pregão relativamente tranquilo na BM&F Bovespa na maior parte do dia. O mercado aguardava os dados trimestrais da Petrobras e repercutia dados divergentes dos EUA.

Pouco antes do fechamento, contudo, as ações da TAM (TAMM4) reverteram a queda vista em grande parte do intraday e dispararam, encerrando com valorização de 27,64%. A alta refletia o rumor – confirmado pouco depois pela empresa – de que estava se fundindo com a chilena Lan, formando a LATAM – a maior empresa aérea da América Latina. O negócio, que prevê o cancelamento da listagem das ações da TAM no Brasil, foi anunciado com muito otimismo pelos executivos, que apontaram expectativas de sinergias anuais de US$ 400 milhões.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A notícia ajudou o Ibovespa a se descolar do dia negativo lá fora, fechando com alta de 0,45%, e impulsionou também as ações da GOL (GOLL4), que subiram 10,6%.

– A queda livre das ações da Petrobras

O ano de 2010 não foi positivo para as ações da Petrobras. Prensadas pelas incertezas e rumores em torno de sua capitalização – e, mais tarde, pelo processo de subscriçãoem si – os papéis ON e PN tiveram a sétima e oitava piores performances do índice no ano.

Entre as quedas mais acentuadas dos ativos, que têm grande peso no Ibovespa, estão os dias 5,6e7 de outubro. Nessas três sessões, os papéis ordinários da estatal recuaram 0,56%,3,98%e2,98%, enquanto as ações preferenciais tiveram baixa de 1,46%, 4,15% e 2,17%, na mesma ordem.

Mais do que o noticiário envolvendo a empresa – que incluiu os números de produção da companhia e uma descobertade indícios de hidrocarbonetos na Bacia de Campos – pesaram sobre os papéis os cortes de recomendação que começaram a surgir após a conclusão do processo de capitalização. Na terça-feira, dia 5, foi a Itaú Corretora – no dia seguinte, foi a vez do Barclays.

Mesmo a variação negativa dos papéis da estatal não foi suficiente para derrubar o Ibovespa no dia 5 – acompanhando o bom humor externo, o índice subiu 1,28% na sessão. As mesmas condições, contudo, não se mantiveram para os dias subsequentes: o benchmark fechou em baixa de 1,04%e0,88%.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

– Dólar a R$ 1,65

Nem mesmo uma intervenção dupla do Banco Central no câmbio impediu que o dólar atingisse sua mínima no ano em 13 de outubro.

O clima positivo nos mercados e a expectativa de que o Fed anunciaria novas medidas de flexibilização quantitativa – o que acabou se concretizando em novembro – fizeram com que a moeda norte-americana encerrasse o dia cotada a R$ 1,655 na venda. O valor indicava baixa de 0,66% frente ao fechamento anterior, testando a mínima feita em 1º de setembro de 2008. Já o Ibovespa subiu 1,03%, renovando sua máxima de 2010 no intraday ao atingir os 71.994 pontos.

A queda vertiginosa do dólar levaria o governo a adotar medidas poucos dias depois para segurar a moeda – que contribuíram para um dos piores dias do Ibovespa no ano.

– Entre o IOF e a China 

No dia 19 de outubro, a bolsa brasileira se viu pressionada tanto pelo cenário doméstico quanto pelo noticiário externo. Por aqui, era o primeiro dia de repercussão da elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) cobrado sobre investimentos estrangeiros em renda fixa e fundos multimercados e de ações – que passou de 4% para 6% – e também da alíquota cobrada sobre a margem de garantia em todas as aplicações feitas no mercado futuro da BM&F Bovespa por estrangeiros.

Lá fora, a China surpreendeu ao elevar suas taxas de referência para depósitos e empréstimos em 0,25 ponto percentual. Assim, a taxa de referência para empréstimos passou de 5,31% para 5,56% ao ano, enquanto a taxa de referência para depósitos foi elevada de 2,25% para 2,50%. O front norte-americano também não trouxe referências positivas. Dados do setor imobiliário dos EUA e resultados corporativos mostraram números aquém do esperado pelo mercado.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Prensado entre tantos dados ruins, o Ibovespa recuou 2,61% na sessão, voltando ao patamar de 69 mil pontos e com quase todas as ações em sua carteira teórica em baixa.

– A saga das ações da Brasil Ecodiesel

Data Variação ECOD3  Cotação de fechamento 
10/12 +4,95%R$ 1,06
9/12 -1,94%R$ 1,01
8/12-7,21%R$ 1,03
7/12+1,83%R$ 1,11
6/12 -5,22%R$ 1,09
3/12+8,49%R$ 1,15
2/12 +4,95%R$ 1,06
1/12 +2,02%R$ 1,01
30/11 +2,06%R$ 0,99
29/11-2,02%R$ 0,97
26/11-3,88%R$ 0,99
25/11+4,04%R$ 1,03
24/11+2,06%R$ 0,99
23/11-3,00%R$ 0,97
22/11-2,91%R$ 1,00
19/11+1,98%R$ 1,03
18/11+1,00%R$ 1,01
17/11+4,17%R$ 1,00
16/11-4,95%R$ 0,96

Uma das estreantes no principal índice da bolsa em 2010, a Brasil Ecodiesel (ECOD3) deu o que falar no ano. Nos dias 22 e 25 de outubro, uma das queridinhas dos investidores ficou em foco em meio a rumores de fusão – e conheceu as pontas compradora e vendedora do Ibovespa.

No dia 22, uma sexta-feira, as ações da Brasil Ecodiesel dispararam no final do pregão – não muito diferente do que aconteceu com a TAM pouco antes do anúncio da fusão das operações com a Lan.

Os ativos ECOD3 fecharam a sessão em alta de 15,7%, impulsionados por um rumor de que a empresa anunciaria uma fusão com a Maeda Agroindustrial.

A sessão seguinte trouxe a confirmação da fusão – e uma pesada queda dos papéis. Os ativos caíram 10,40%, para R$ 1,12 cada, após a divulgação de comunicado informando a relação de troca entre as ações: aproximadamente 3,6395 ações da Maeda por cada papel da Brasil Ecodiesel, o que atribui à Maeda um valor de mercado de R$ 320 milhões, cerca 33% da sociedade resultante da operação.

Com um peso pequeno no Ibovespa, as pesadas variações da Brasil Ecodiesel tiveram pouco impacto no índice. Nos dias 22e25 de outubro, as variações do benchmark ficaram em -0,18%e+0,07%, nessa ordem. 

A saga das ações da Brasil Ecodiesel, contudo, não se restringe somente a esses dias. Veja ao lado uma tabela com as variações dos papéis da metade de novembro até a metade de dezembro – vale lembrar que, como a ação é barata, cotada em torno de R$ 1,00, uma variação de centavos se traduz em percentuais elevados de alta ou baixa nos ativos.

– O Ibovespa se aproxima da máxima histórica 

 

O Ibovespa chegou próximo a sua máxima histórica no dia 4 de novembro. O índice avançou 1,52%, chegando ao patamar de 72.995 pontos – o maior desde maio de 2008.

O clima foi sustentado tanto por fatores domésticos quanto internacionais. Por aqui, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o crescimento do PIB do País em 2010 seria o melhor em 25 anos. A Fitch Ratings, por sua vez, afirmou que o rating brasileiro poderia ser elevado novamente caso haja uma política fiscal mais restritiva no governo Dilma Rousseff.

No front externo, os mercados ainda repercutiram o anúncio da nova rodada de medidas de estímulo à economia dos EUA, o QE2, feito na véspera pela autoridade monetária norte-americana. A valorização das commodities também ajudou, puxando as ações de empresas como Usiminas (USIM3USIM5), Petrobras, Vale (VALE3VALE5) e CSN (CSNA3), que têm grande peso no índice.

Newsletter
Infomorning
Receba no seu e-mail logo pela manhã as notícias que vão mexer com os mercados, com os seus investimentos e o seu bolso durante o dia
Compartilhe
Fortune Gems Mapa do site